sábado, 23 de maio de 2015

Nunca te abandono

Sou um sopro de vento.
Sem dono, sem lugar, sem amarras.
Vou e venho como o pêndulo do relógio, mas sem a sua desconcertante ritmacía.
Sem a sua certeza e suavidade. Sem constância. 

Dou por mim, múltiplas vezes, a esgueirar-me pelas entrelinhas, a vaguear por entre os sonhos, e a sonhar escondida da realidade.

Move-me a vontade. Aquela incontrolável vontade de abarcar o mundo. Como se o mundo pudesse ser abarcado.

Devaneio de olhos abertos, mas abertos sem ver. Momentaneamente cega, simultâneamente focada.

E de repente não sei onde estou. Não sei como cheguei. Não sei para onde vou.

Agrada-me estar em lado nenhum. Porque estando em lado nenhum, sinto-me em algum lado.
Pertenço a algum lado. E nada é mais reconfortante do que pertencer, nem que seja a lado nenhum...
Desde que se pertença a algum lado.

Sei que me esgueiro muitas vezes.
Sei que saltito freneticamente no espaço entre os segundos.
Sei que corro como uma criança, para o seu mundo mágico.
Sei que desapareço sem aviso, avisando previamente.

Corro e escondo-me atrás dos montes de sonho.
Espreito e riu. Riu como se fosse louca. Riu da minha própria loucura.
E continuo a correr. Sem uma meta. Sem um fim.
Corro porque é mais fácil do que ficar.
Corro para estar e não estar.

Corro pendularmente.

Acabo sempre por voltar para a sanidade.
Para o real.
Para o comum.
Para o mundo dos mortais.

Algo me prende mais do que a magia do meu mundo ininteligível. A nobreza de amar pessoas reais.

Corro pendularmente.
Vou e volto.

Mas nunca te abandono...
...só às vezes...
mas é só um bocadinho...
no fim, volto sempre!









Que os sonhadores nunca deixem de sonhar...

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