terça-feira, 28 de julho de 2015

Metus

Na vida ou se ganha ou se perde,
ou se perde e ganha, mas nunca há meio termo.
Nem termo do meio.
Porque não conseguimos viver sem nos envolver,
E quando nos envolvemos, nos enrolamos, nos unificamos com a nossa vivência,
A intensidade não pode ser desintegrada, não a conseguimos dissociar...

E se vivemos, então arriscamos a cada segundo...
Arriscamos todo o nosso pequeno mundo.
Não o podemos evitar...

Quando me perguntavam qual era o meu maior medo,
Respondia sem muito a pensar, perder.
Perder os que amo, primeiramente.
Perder-me a mim mesma, com o tempo.

Agora só temo não encontrar.
Não encontrar as respostas,
Não encontrar a trâmite,
Não me encontrar a mim.

Não encontrar é quase como perder,
Só que mais difuso...
Acho que é o que se teme quando já se perdeu muito...
Quando já perdemos muito, acabamos por espera-lo,
Sabemos que tudo é finito, sabemos mesmo,
Não que há essa possibilidade. Temos essa certeza.
Deixamos de temer essa perda incontrolável,
E passamos a temer a possibilidade de morrermos antes da morte.

Está escuro neste canto,
A rua é gélida, queima a minha pele de papel,
Não sei como vim cá ter, não sei como hei de cá sair.
A calçada disforme aleija os meus pés descalços à medida que a percorro.

Não sei onde estou. Não sei quem sou.
Esta amnésia tão consciente de si mesma,
Esta cegueira tão focada,
Impedem-me de ver para lá da neblina que me rodeia.

Subitamente, não sinto se não um formigueiro,
Quente, pequeno, quase imperceptível, percorre o meu corpo imóvel,
Imobilizado pelo temor.
Sinto-me presa dentro de mim. Estou presa dentro de mim.

A rua estreita-se ao meu redor.
Vai-se fechando à medida que a minha vontade de escapar inflama.
Ardem-me os olhos, escorrem-me as lágrimas.
Não sei em que mundo estou.
Não distingo o real do ilusório.

Perco-me na respiração.
Não tenho se não coração.
Morri. Estou morta.

Abro os olhos devagar.
Olho em meu redor. Sei onde estou.
Sei quem sou.

Desta vez, encontrei.

















Que os sonhadores nunca deixem de sonhar...


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