Aqueles, que como tu, estão presentes na nossa vida há tanto tempo, marcaram tão boas memórias, deram-nos incontáveis sorrisos, preencheram o nosso peito de tão gigantesca felicidade... são difíceis de não recordar.
Ao fim de tantos anos, descobri muito acerca de nós. Descobri que fui aprendendo a amar-te dia após dia, um momento atrás do outro. Acho que só percebi isso tarde de mais.
Tínhamos tantos ventos e marés contra os quais tínhamos de remar... Tinha tanto medo. Tenho tanto medo.
Sempre tive uma obsessão por certezas, por isso demorei tanto tempo a ter a certeza de que o mais certo eras tu e eu, éramos nós. Acho que a certeza só emergiu no momento em que soube que te perdi, perdi-te para o mundo. Ficar sem ti, foi ficar sem rumo, continuando a acreditar que estava no caminho certo.
Ergui a cabeça e decidi que o mundo continuaria a girar, mas ele jamais voltou a girar da mesma forma. Acreditei que me habituaria, mas não me habituei.
Então parei. Fechei-me dentro de mim, reflecti e meditei. Conclui que precisava de te ter. Desta vez tentei. E falhei. Mas não desisti. No meu íntimo sabia que havia de te ver em breve, e vi. Há pouco mais de um mês.
Era um dia soalheiro e todos pareciam felizes. Alguém soltara borboletas dentro de mim semanas antes do hoje. Esperei ansiosamente e preparei-me para o momento em que te voltaria a ver, depois de infindáveis tempos.
Quando lá cheguei, não te vi. Temi desmoronar-me, partir-me em mil pedacinhos e desaparecer com o vento. Inspirei e expirei lentamente. Estava determinada a chegar até ti.
Entrei, e o espaço estava repleto de gente. Assim que a música começou, cada molécula do meu corpo vibrou. Soube que estavas ali.
E do nada vi-te. Naquele momento, o espaço estreitou-se, as pessoas dissiparam-se. Éramos só nós. Estáticos, cada um no seu canto. Naquele momento, em que os meus olhos se prenderam nos teus, tive a certeza que eles também me procuravam.
E do nada surge aquela música, aquela maldita música. A que contava a nossa história, ou pelo menos a minha versão da história. E fui obrigada a cair na realidade. Os ecos que murmuravam os rumores de haver outra, atingiram-me que nem flechas. Mas a verdade é que te procurava, gritando o teu nome aos ventos. "Eu sem ti, tu sem mim, como poderíamos ser felizes???" Maldita música.
Naquele dia, estava determinada a dar um rumo à nossa história. Qualquer rumo.
Não conseguindo controlar a minha capacidade inata de estragar tudo aquilo com o que me importo, acabei por boicotar a mais remota possibilidade de um final feliz.
O único rumo remanescente era o que já tentara outrora, continuar com a minha vida. Sem ti.
E pouco mais de um mês depois, eu acordo como que em outra vida. Desço a pés descalços, os degraus de pedra fria. Preparo o pequeno-almoço. Sento-me à mesa e ligo a televisão. Aquela música, aquela maldita música!!! E tudo que ficara no passado aterrisa subitamente no meu presente. "Eu sem ti, tu sem mim, como poderemos ser felizes???"
Ontem à noite custou-me a adormecer, porque ontem foi o dia em que não me consegui esquecer de ti.
Que os sonhadores nunca deixem de sonhar...