quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

Enganos

São enganos os daqueles que vêm a brados a dizer
Que nos querem, que nos amam,
Que sem nós não conseguem viver.
São enganos as nossas crenças de que assim possa ser.

Que génio, que louco, que ingénuo!
Que fraqueza da alma humana, deixar-se ludibriar,
Por quem não sabe o que quer, nem sabe o que dar.

E no fundo somos, somente alimento para egos alheios!
Tormento o nosso, tormento o seu.
Todos tolos, todos cegos. Todos com anseios.








Que os sonhadores nunca deixem de sonhar...

sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

Capulus

Bebo o café, com sede de alívio. Sinto-o a vir e a tomar conta de mim.
Sabe bem. É reconfortante.
Num trago leve e intenso, doce e amargo. Quente, sempre quente.
Nos poucos segundos que cada gole me consome, traz-me paz. Faz-me esquecer todo o mundo em meu redor.
Sou só eu e aquele sabor, tão distintivo. Tão dono de si próprio.
As dores esfumam-se, a ansiedade dissipasse. Mas que célebre antítese!
Deixo-me ir e levar no sabor que embala as minhas papilas gustativas, com a mesma sincronia que embala a minha mente.
Enxergo, mesmo de olhos fechados, aquilo que de bom há no mundo. Os pequenos momentos. São os pequenos momentos. Aqueles que nos fazem fugir da ritmacia enervante, do corridinho corriqueiro do quotidiano. Esses que nos levam a explorar o que de melhor há dentro de nós, esses são os maiores tesouros do mundo.
Abro os olhos devagar, confesso que sem muita vontade, um sorriso estampado no rosto e na alma. Inalo. Exalo.
Hoje foi um café...
Amanhã o que será?






Que os sonhadores nunca deixem de sonhar...

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Huius. Nostrum.

Uma saudade como quem nos mata imposta por esta distância que se ergue entre a gente. 

É como se nos ferissem a alma sem nos tocarem. É como se nos roubassem o oxigénio dos pulmões. 

É como se nos dilacerassem com o olhar.  É como se lhe cobrassem uma elasticidade que a génese humana tanto nos renega.

É um remoer baixinho que ecoa a brados.

Fica difícil ser inteiro na falta da metade.

É tão estranho pensar o quão insignificantes já fomos na vida um do outro, o quão desnecessários... E agora seres o indispensável, o essencial na minha vida. A força gravítica que me faz caminhar, o oxigénio nos meus pulmões. 

Aconteci-te por acaso. Aconteceste-me por acaso. Acontecemo-nos por acaso. E foi o acaso mais bonito.  

Contra todas as expectativas, contra todas as fortunas, afortunados ao ser brindados por elas. E se não foi obra do acaso, foi dedo do destino. Um amor assim, só pode ser feito divino. Ou não. O próprio cosmos juntou o que era de se juntar. Sem explicação. Não precisa de ser explicado.

Não precisa de fazer sentido. Precisa de ser sentido, precisa de ser vivido.




























Que os sonhadores nunca deixem de sonhar...

domingo, 16 de setembro de 2018

O medo de ser feliz

Às vezes olhamos para o mundo e não vemos nele a beleza das coisas. Quase como se não o quiséssemos ver, como lhe fechássemos os olhos ou os deixássemos embaçar. 
Há um medo que nos cresce nas entranhas, que se expande por cada centímetro nosso. Um medo de ver a beleza do mundo, um medo de aceitar a felicidade, um medo de ser feliz. Uma culpa por ser feliz.
Apoderando-nos da desgraça alheia e da nossa própria miséria, erguemos um ritual a um deus do caos e destruição, e deixamos marinar o nosso sofrimento. Porque é sempre mais fácil sucumbir à dor.

Mas a verdade, é que há no mundo muita mais beleza do que dor. Às vezes só temos de mudar as lentes com que o olhamos. Ser feliz também dá trabalho. Ser feliz é um compromisso que temos connosco mesmos, e deveria ser o compromisso mais importante das nossas vidas.












Que os sonhadores nunca deixem de sonhar...

segunda-feira, 30 de abril de 2018

O dia em que não me esqueci de ti

Havia passado pouco mais de um mês desde a última vez que te vira. Desde então, tudo parecia organizado. O sentimento avassalador, terminado e arrumado na velha caixa de quinquilharias, guardada na esquina poeirenta do sótão. Tu em mim, já tinha conseguido um fim. Tu eras passado. Eras passado há muito tempo. Eras pretérito imperfeito. Pensei que te tinha aperfeiçoado. Estava enganada.

Aqueles, que como tu, estão presentes na nossa vida há tanto tempo, marcaram tão boas memórias, deram-nos incontáveis sorrisos, preencheram o nosso peito de tão gigantesca felicidade... são difíceis de não recordar.

Ao fim de tantos anos, descobri muito acerca de nós. Descobri que fui aprendendo a amar-te dia após dia, um momento atrás do outro. Acho que só percebi isso tarde de mais.

Tínhamos tantos ventos e marés contra os quais tínhamos de remar... Tinha tanto medo. Tenho tanto medo.

Sempre tive uma obsessão por certezas, por isso demorei tanto tempo a ter a certeza de que o mais certo eras tu e eu, éramos nós. Acho que a certeza só emergiu no momento em que soube que te perdi, perdi-te para o mundo. Ficar sem ti, foi ficar sem rumo, continuando a acreditar que estava no caminho certo.

Ergui a cabeça e decidi que o mundo continuaria a girar, mas ele jamais voltou a girar da mesma forma. Acreditei que me habituaria, mas não me habituei.

Então parei. Fechei-me dentro de mim, reflecti e meditei. Conclui que precisava de te ter. Desta vez tentei. E falhei. Mas não desisti. No meu íntimo sabia que havia de te ver em breve, e vi. Há pouco mais de um mês.

Era um dia soalheiro e todos pareciam felizes. Alguém soltara borboletas dentro de mim semanas antes do hoje. Esperei ansiosamente e preparei-me para o momento em que te voltaria a ver, depois de infindáveis tempos.

Quando lá cheguei, não te vi. Temi desmoronar-me, partir-me em mil pedacinhos e desaparecer com o vento. Inspirei e expirei lentamente. Estava determinada a chegar até ti.

Entrei, e o espaço estava repleto de gente. Assim que a música começou, cada molécula do meu corpo vibrou. Soube que estavas ali.

E do nada vi-te. Naquele momento, o espaço estreitou-se, as pessoas dissiparam-se. Éramos só nós. Estáticos, cada um no seu canto. Naquele momento, em que os meus olhos se prenderam nos teus, tive a certeza que eles também me procuravam.

E do nada surge aquela música, aquela maldita música. A que contava a nossa história, ou pelo menos a minha versão da história. E fui obrigada a cair na realidade. Os ecos que murmuravam os rumores de haver outra, atingiram-me que nem flechas. Mas a verdade é que te procurava, gritando o teu nome aos ventos. "Eu sem ti, tu sem mim, como poderíamos ser felizes???" Maldita música.

Naquele dia, estava determinada a dar um rumo à nossa história. Qualquer rumo.

Não conseguindo controlar a minha capacidade inata de estragar tudo aquilo com o que me importo, acabei por boicotar a mais remota possibilidade de um final feliz.

O único rumo remanescente era o que já tentara outrora, continuar com a minha vida. Sem ti.

E pouco mais de um mês depois, eu acordo como que em outra vida. Desço a pés descalços, os degraus de pedra fria. Preparo o pequeno-almoço. Sento-me à mesa e ligo a televisão. Aquela música, aquela maldita música!!! E tudo que ficara no passado aterrisa subitamente no meu presente. "Eu sem ti, tu sem mim, como poderemos ser felizes???"


Ontem à noite custou-me a adormecer, porque ontem foi o dia em que não me consegui esquecer de ti.














Que os sonhadores nunca deixem de sonhar...

quinta-feira, 15 de junho de 2017

In Dubio

Dias há de infindáveis alegrias,
Outros de tremendas agonias.
Sei o que sinto, sem saber bem,
Certezas, quem as tem?

Ninguém sabe o que o seu coração quer,
Se soubesse dar-lho-ia,
Se soubesse não o quereria.










Que os sonhadores nunca deixem de sonhar...




quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Ser... às vezes

Ás vezes sinto-me vazia, perdida na imensidão de nada que habita no meu interior. Não há chão sob os meus pés, não há escuridão neste vácuo. É tudo branco, branco como uma folha de papel por estrear, uma folha sem linhas ou margens. Olho os recantos mais remotos do meu ser, mas não há lápis ou caneta. Não tenho como criar nada, não tenho como preencher o nada.

Ás vezes sinto-me perdida,sem saber para onde ir. Sem ter para onde ir. Não há caminhos certos ou errados. Qualquer desejo deles é vislumbre, porque a sua realidade é inexistente.

Tomaram-me as rédeas das mãos, perdi o controlo da minha vida... se alguma vez tive o seu controlo. O tapete que me sustentava foi abruptamente arrancado pelas mãos fantasmagóricas da ironia do destino.

Estou imóvel e despojada de coragem. O meu corpo treme a cada pensamento. A minha mente bloqueia cada emoção. Tento afogar os sentimentos que emergem do fundo do meu ser.

Sou a personificação da vida sem vida. Cada célula do meu corpo tem mil fragmentos de medo. E o medo apoderasse de mim.

É tudo turvo e confuso. Não sei o que quero. Não tenho certezas do que não quero.

Perdida no meio da descoberta. Já não me recordo do que é ser. Perdi a memória de quem sou.

Não sei o que vou ser, quando voltar a ser, se algum dia voltar a ser.













Que os sonhadores nunca deixem de sonhar...
















Sometimes I feel empty, lost in the immensity of nothing that lives inside me. There is no floor under my feet. There is no darkness in this vacum. It’s all white, white as a paper sheet unused, without lines or margin. I look at the most remote recesses of my being, but there is no pencil or pen. I don’t have how to create anything, I don’t have how to fill the nothing.

Sometimes I feel lost, without knowing where to go. Without having where to go. There is no right ways or wrong. Any desire of them is a glimpse, because their reality don’t exist.

They took the reins of my hands, I lost the control of my life… if I ever had the control. The carpet that sustained me was abruptly yanked by the ghostly hands of fate’s irony.

I am still and stripped of courage. My body trembles at every thought. My mind blocks every emotion. I try to drown the feelings that emerge from the depths of my being.

I am the personification of life without life. Every cell in my body has thousand fragments of fear. And fear seize me.

It's all blurred and confused. I don’t know what I want. I have no certainties what I don’t want.

I’m lost in the middle of discovery. I can’t remember what is to be. I lost the memory of who I am.

I don’t know what I will be when I return to be, if ever I return to being.



That dreamers never stop dreaming ...