segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Huius. Nostrum.

Uma saudade como quem nos mata imposta por esta distância que se ergue entre a gente. 

É como se nos ferissem a alma sem nos tocarem. É como se nos roubassem o oxigénio dos pulmões. 

É como se nos dilacerassem com o olhar.  É como se lhe cobrassem uma elasticidade que a génese humana tanto nos renega.

É um remoer baixinho que ecoa a brados.

Fica difícil ser inteiro na falta da metade.

É tão estranho pensar o quão insignificantes já fomos na vida um do outro, o quão desnecessários... E agora seres o indispensável, o essencial na minha vida. A força gravítica que me faz caminhar, o oxigénio nos meus pulmões. 

Aconteci-te por acaso. Aconteceste-me por acaso. Acontecemo-nos por acaso. E foi o acaso mais bonito.  

Contra todas as expectativas, contra todas as fortunas, afortunados ao ser brindados por elas. E se não foi obra do acaso, foi dedo do destino. Um amor assim, só pode ser feito divino. Ou não. O próprio cosmos juntou o que era de se juntar. Sem explicação. Não precisa de ser explicado.

Não precisa de fazer sentido. Precisa de ser sentido, precisa de ser vivido.




























Que os sonhadores nunca deixem de sonhar...

domingo, 16 de setembro de 2018

O medo de ser feliz

Às vezes olhamos para o mundo e não vemos nele a beleza das coisas. Quase como se não o quiséssemos ver, como lhe fechássemos os olhos ou os deixássemos embaçar. 
Há um medo que nos cresce nas entranhas, que se expande por cada centímetro nosso. Um medo de ver a beleza do mundo, um medo de aceitar a felicidade, um medo de ser feliz. Uma culpa por ser feliz.
Apoderando-nos da desgraça alheia e da nossa própria miséria, erguemos um ritual a um deus do caos e destruição, e deixamos marinar o nosso sofrimento. Porque é sempre mais fácil sucumbir à dor.

Mas a verdade, é que há no mundo muita mais beleza do que dor. Às vezes só temos de mudar as lentes com que o olhamos. Ser feliz também dá trabalho. Ser feliz é um compromisso que temos connosco mesmos, e deveria ser o compromisso mais importante das nossas vidas.












Que os sonhadores nunca deixem de sonhar...

segunda-feira, 30 de abril de 2018

O dia em que não me esqueci de ti

Havia passado pouco mais de um mês desde a última vez que te vira. Desde então, tudo parecia organizado. O sentimento avassalador, terminado e arrumado na velha caixa de quinquilharias, guardada na esquina poeirenta do sótão. Tu em mim, já tinha conseguido um fim. Tu eras passado. Eras passado há muito tempo. Eras pretérito imperfeito. Pensei que te tinha aperfeiçoado. Estava enganada.

Aqueles, que como tu, estão presentes na nossa vida há tanto tempo, marcaram tão boas memórias, deram-nos incontáveis sorrisos, preencheram o nosso peito de tão gigantesca felicidade... são difíceis de não recordar.

Ao fim de tantos anos, descobri muito acerca de nós. Descobri que fui aprendendo a amar-te dia após dia, um momento atrás do outro. Acho que só percebi isso tarde de mais.

Tínhamos tantos ventos e marés contra os quais tínhamos de remar... Tinha tanto medo. Tenho tanto medo.

Sempre tive uma obsessão por certezas, por isso demorei tanto tempo a ter a certeza de que o mais certo eras tu e eu, éramos nós. Acho que a certeza só emergiu no momento em que soube que te perdi, perdi-te para o mundo. Ficar sem ti, foi ficar sem rumo, continuando a acreditar que estava no caminho certo.

Ergui a cabeça e decidi que o mundo continuaria a girar, mas ele jamais voltou a girar da mesma forma. Acreditei que me habituaria, mas não me habituei.

Então parei. Fechei-me dentro de mim, reflecti e meditei. Conclui que precisava de te ter. Desta vez tentei. E falhei. Mas não desisti. No meu íntimo sabia que havia de te ver em breve, e vi. Há pouco mais de um mês.

Era um dia soalheiro e todos pareciam felizes. Alguém soltara borboletas dentro de mim semanas antes do hoje. Esperei ansiosamente e preparei-me para o momento em que te voltaria a ver, depois de infindáveis tempos.

Quando lá cheguei, não te vi. Temi desmoronar-me, partir-me em mil pedacinhos e desaparecer com o vento. Inspirei e expirei lentamente. Estava determinada a chegar até ti.

Entrei, e o espaço estava repleto de gente. Assim que a música começou, cada molécula do meu corpo vibrou. Soube que estavas ali.

E do nada vi-te. Naquele momento, o espaço estreitou-se, as pessoas dissiparam-se. Éramos só nós. Estáticos, cada um no seu canto. Naquele momento, em que os meus olhos se prenderam nos teus, tive a certeza que eles também me procuravam.

E do nada surge aquela música, aquela maldita música. A que contava a nossa história, ou pelo menos a minha versão da história. E fui obrigada a cair na realidade. Os ecos que murmuravam os rumores de haver outra, atingiram-me que nem flechas. Mas a verdade é que te procurava, gritando o teu nome aos ventos. "Eu sem ti, tu sem mim, como poderíamos ser felizes???" Maldita música.

Naquele dia, estava determinada a dar um rumo à nossa história. Qualquer rumo.

Não conseguindo controlar a minha capacidade inata de estragar tudo aquilo com o que me importo, acabei por boicotar a mais remota possibilidade de um final feliz.

O único rumo remanescente era o que já tentara outrora, continuar com a minha vida. Sem ti.

E pouco mais de um mês depois, eu acordo como que em outra vida. Desço a pés descalços, os degraus de pedra fria. Preparo o pequeno-almoço. Sento-me à mesa e ligo a televisão. Aquela música, aquela maldita música!!! E tudo que ficara no passado aterrisa subitamente no meu presente. "Eu sem ti, tu sem mim, como poderemos ser felizes???"


Ontem à noite custou-me a adormecer, porque ontem foi o dia em que não me consegui esquecer de ti.














Que os sonhadores nunca deixem de sonhar...